Ao ver uma rosa branca O poeta disse: Que linda! Cantarei sua beleza Como ninguém nunca ainda!
Qual não é sua surpresa Ao ver, à sua oração A rosa branca ir ficando Rubra de indignação.
É que a rosa, além de branca (Diga-se isso a bem da rosa...) Era da espécie mais franca E da seiva mais raivosa.
– Que foi? – balbucia o poeta E a rosa; – Calhorda que és! Pára de olhar para cima! Mira o que tens a teus pés!
E o poeta vê uma criança Suja, esquálida, andrajosa Comendo um torrão da terra Que dera existência à rosa.
– São milhões! – a rosa berra Milhões a morrer de fome E tu, na tua vaidade Querendo usar do meu nome!...
E num acesso de ira Arranca as pétalas, lança-as Fora, como a dar comida A todas essas crianças.
O poeta baixa a cabeça. – É aqui que a rosa respira... Geme o vento. Morre a rosa. E um passarinho que ouvira
Quietinho toda a disputa Tira do galho uma reta E ainda faz um cocozinho Na cabeça do poeta.
Compositor: Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes (Vinicius de Moraes) (UBC)Editor: Vm Cultural (UBC)ECAD verificado obra #6379999 em 08/Abr/2024 com dados da UBEM